A postagem disponibilizada pelo Observatório do Terceiro Setor e Escrito por Edmond Sakai, traz luz sobre uma pesquisa realizada pelo Instituto para o desenvolvimento do Investimento Social – IDIS, sobre os hábitos de Doação dos indivíduos no Brasil.
A Pesquisa Doação Brasil 2020, coordenada pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, e realizada pela Ipsos, contou também com a participação de profissionais e ativistas da Cultura de Doação no Brasil. Mais abrangente estudo sobre os hábitos de Doação dos indivíduos no Brasil, foi feito pela primeira vez em 2015 e a expectativa é que seja repetido a cada cinco anos, para acompanhar a evolução da cultura de Doação no País.
A pesquisa, que combina metodologias quantitativas e qualitativas para fazer uma verdadeira radiografia da Cultura de Doação no Brasil, traz muitos resultados interessantes e valiosos para todos que atuam na área da Filantropia, Terceiro Setor e Impacto Social. Vale a pena analisar com calma o relatório completo, mas citarei aqui o que mais me chamou a atenção.
Crise teve forte impacto nas doações
A crise socioeconômica acentuada pela pandemia se traduziu em queda das doações de todos os tipos: dinheiro, bens e trabalho voluntário. Enquanto, em 2015, 77% da população havia feito algum tipo de Doação, em 2020, o percentual ficou em 66%. Quando se trata de Doação em dinheiro, a proporção caiu de 52% para 41%. O percentual de doadores para organizações e iniciativas socioambientais encolheu de 46% da população, em 2015, para 37% em 2020.
A redução se deu majoritariamente entre as classes menos favorecidas, que se viram transformadas de doadores em 2015, para dependentes de doações, em 2020. A Doação de dinheiro caiu de 32% para 25% entre 2015 e 2020, na faixa com renda familiar até 2 salários mínimos. Apesar disso, metade das pessoas de classes C2/D/E, mesmo diante de vulnerabilidade e incerteza, doaram bens e materiais.
Já as classes mais favorecidas aumentaram significativamente seu volume de doações, de 51% para 58%, nas classes com renda familiar entre 6 e 8 salários mínimos, e de 55% para 59% entre as classes com renda familiar acima de 8 salários mínimos. Isto mostra, que apesar das dificuldades, e talvez justamente por elas, os brasileiros aumentaram seu senso de Solidariedade e empatia.
População confia no trabalho das OSCs
Outros dados da pesquisa confirmam essa percepção, que reflete a valorização e confiança no trabalho realizado pelas OSCs.
A relevância dessas organizações é reconhecida por 74% da população, que as vê como necessárias para ajudar a solucionar os problemas sociais e ambientais, e 60% dos brasileiros concordam que as OSCs realizam um trabalho competente, números superiores aos encontrados na edição anterior.
De 2015 para 2020, também caiu a proporção de pessoas que acham que o governo é o principal responsável por enfrentar os problemas sociais, enquanto a percepção da responsabilidade de empresas, OSCs e a população em geral cresceu.
Motivações para doar e percepções sobre o gesto
Quanto à motivação para doar, os brasileiros acreditam que doar faz bem a quem doa (91%) e têm certeza que doar faz alguma diferença (83%).
Se manteve estável o aspecto mais importante associado à prática de doar: que ela deve ser feita sem esperar nada em troca, por autêntica generosidade, desinteressadamente. 91% achavam isso em 2015 e 94% em 2020, ou seja, quase unanimidade.
Motivação para Doar
Ainda é forte a percepção de que quem doa não deve falar que faz doações, mas ela caiu de 84% em 2015 para 69% em 2020. Esse dado é importante pois falar sobre a Doação estimula sua prática, traz inspiração, esclarece temores e desperta o interesse de outras pessoas.
Os autores da pesquisa analisam que essa cultura está lentamente mudando, de uma percepção na chave “cristã” de que “a mão direita não deve saber o que a mão esquerda faz” para um registro calcado na cidadania, em que divulgar o ato de doar promove o bem coletivo ao incentivar os outros a repetir o gesto. Por meio de campanhas que explorem essa chave, é possível acelerar essa mudança.
Cada vez mais os brasileiros têm clareza sobre o benefício da Doação e toma a decisão de doar com base em fatores objetivos, ligados a causas que valorizam e entidades em que confiam. Segundo a pesquisa, “é uma decisão ponderada, planejada e demonstra uma visão de mundo que valoriza cidadania, reciprocidade e empatia, além do próprio desenvolvimento pessoal”.
Há muitos outros insights interessantes na pesquisa, mas para não me alongar por aqui, reitero que vale a pena ler o relatório completo. Principalmente a dimensão qualitativa da pesquisa traz muitos insumos para basear campanhas de Doação. Quanto mais informação, melhor!
Segue nesse link o arquivo com a Pesquisa Completa.
Texto extraído com adaptações do Site Observatório Terceiro Setor.